A doença viral mpox, anteriormente conhecida como varíola dos macacos (ou monkeypox), voltou a ganhar destaque global. No dia 14 de agosto de 2024, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou o atual surto de mpox na África como uma emergência de saúde pública internacional. Essa declaração já havia sido emitida em 2022, mas, em 2023, o status foi rebaixado.
Atualmente, a maioria dos casos de mpox está concentrada na República Democrática do Congo, que, desde janeiro de 2023, reportou mais de 22.000 casos suspeitos e mais de 1.200 mortes, conforme dados do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos.
O principal motivo de preocupação da OMS é a possibilidade de que uma cepa mais letal e transmissível do vírus, conhecida como clado 1b, tenha se espalhado para províncias africanas onde a doença não era comum. Segundo o CDC africano, os casos de mpox aumentaram 160% em 2024, com um crescimento de 19% no número de mortes, em comparação ao mesmo período de 2023.
O que é mpox (Monkeypox)?
Mpox é uma doença causada pelo vírus mpox, pertencente ao gênero Orthopoxvirus e família Poxviridae. Ela é transmitida principalmente por meio de pessoas infectadas ou objetos contaminados pelo vírus, e os principais sintomas são lesões na pele.
Originalmente, a mpox era uma doença restrita a áreas rurais da África Central e Ocidental, onde o contato com animais infectados era a principal forma de transmissão. No entanto, com a globalização e o aumento das viagens internacionais, a mpox passou a ser observada em outros continentes.
Hoje, temos basicamente um grupo de vírus mpox circulando na África Ocidental chamado de clado 2, que causa sintomas mais brandos, e outro na República Democrática do Congo e países vizinhos, o clado 1. Em 2023, surgiu uma variante mais letal do clado 1, o clado 1b. E é justamente essa cepa que a OMS teme que se espalhe pelo mundo como aconteceu com o clado 2 em 2022.
No dia 15 de agosto de 2024, um dia após a OMS declarar a mpox na África uma emergência de saúde global, a entidade previu novos casos na Europa, após a Suécia ter notificado o primeiro caso de mpox clado 1b fora da África. A pessoa foi infectada em uma viagem ao continente africano.
Casos de mpox no Brasil
Os primeiros casos de mpox no Brasil foram confirmados em 2022. Mesmo em 2024, os registros no país estão relacionados ao clado 2 da mpox, que é menos agressivo em comparação à cepa que atualmente preocupa a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Segundo o Ministério da Saúde, o número de casos no Brasil tem diminuído significativamente ano após ano. Em agosto de 2022, no auge da doença, foram registrados 40 mil casos. Em agosto de 2023, o número caiu para 400, e, agora, no mesmo mês de 2024, há entre 40 e 50 casos.
Em nota oficial, o Ministério da Saúde declarou que, no momento, o risco representado pela mpox é baixo para o Brasil. No entanto, o órgão pretende atualizar as recomendações e o plano de contingência para enfrentar a doença no país.
O Ministério também divulgou dados sobre o perfil epidemiológico das infecções por mpox no Brasil. Até agora, 91,3% dos casos foram diagnosticados em homens, com a média de idade de 32 anos. Além disso, 45,9% dos infectados confirmados ou prováveis declararam viver com HIV.
Quanto à gravidade dos casos, o Ministério da Saúde informou que apenas 3,1% dos pacientes infectados necessitaram hospitalização devido ao agravamento da doença. O órgão também destacou que todo o país está devidamente abastecido com insumos para a realização de exames diagnósticos para mpox.
- Erupções cutânea ou lesões de pele
- Linfonodos inchados (ínguas)
- Febre
- Dor de cabeça
- Dores no corpo
- Calafrio
- Fraqueza
O período de incubação da mpox, ou seja, o tempo entre o contágio e o surgimento dos primeiros sintomas, varia geralmente de 3 a 16 dias, podendo se estender até 21 dias. Após o aparecimento dos sintomas, como as erupções cutâneas, a pessoa infectada deixa de ser contagiosa quando as crostas das lesões desaparecem. Normalmente, as erupções começam a surgir de um a três dias após o início da febre, embora, em alguns casos, possam aparecer antes da febre.
As lesões na pele podem ser planas ou ligeiramente elevadas, contendo líquido claro ou amarelado. Com o tempo, formam crostas que secam e caem. O número de lesões pode variar significativamente, de apenas algumas a milhares. Geralmente, as erupções se concentram no rosto, nas palmas das mãos e nas solas dos pés, mas podem aparecer em outras áreas do corpo, como a boca, os olhos, os órgãos genitais e o ânus.
O diagnóstico da mpox é confirmado através de exames laboratoriais, que podem incluir testes moleculares ou sequenciamento genético. Todos os pacientes com suspeita da doença devem passar por esses testes. As amostras para análise são coletadas preferencialmente a partir da secreção das lesões. No caso de lesões já secas, o material utilizado será as crostas. No Brasil, as amostras estão sendo enviadas para laboratórios de referência.
Além disso, é importante considerar outras doenças para o diagnóstico complementar, como varicela zoster, herpes zoster, herpes simples, infecções bacterianas da pele, infecção gonocócica disseminada, sífilis primária ou secundária, cancróide, linfogranuloma venéreo, granuloma inguinal, molusco contagioso, reações alérgicas e qualquer outra condição que cause erupções cutâneas papulares ou vesiculares. Há casos relatados de pacientes coinfectados com o vírus da mpox e outros agentes infecciosos, portanto, é essencial investigar a mpox em pacientes com erupções características, mesmo que outros testes apresentem resultados positivos.
Transmissão
A mpox é transmitida principalmente pelo contato direto entre pessoas, seja através da pele, secreções ou pela exposição prolongada e próxima a gotículas respiratórias e outras secreções. A transmissão ocorre principalmente pelo contato direto com erupções cutâneas, lesões ou fluidos corporais (como pus ou sangue) de uma pessoa infectada. Úlceras, lesões ou feridas na boca também podem ser contagiosas, permitindo que o vírus seja transmitido pela saliva.
Além disso, o contágio pode acontecer por meio do contato com objetos recentemente contaminados, como roupas, toalhas, lençóis, ou até utensílios e pratos que estiveram em contato com alguém infectado. A transmissão por gotículas respiratórias geralmente requer um contato próximo e prolongado, o que coloca profissionais de saúde, familiares e parceiros íntimos em maior risco de infecção.
Uma pessoa pode transmitir o vírus desde o início dos sintomas até que todas as erupções tenham cicatrizado e uma nova camada de pele tenha se formado. A doença tende a evoluir de forma leve a moderada, com duração entre 2 a 4 semanas.
Prevenção
A melhor forma de se proteger contra a mpox é através da prevenção. Recomenda-se evitar o contato direto com pessoas que estejam com suspeita ou confirmação da doença. Caso o contato seja necessário, como no caso de cuidadores, profissionais de saúde, familiares próximos e parceiros, é fundamental o uso de luvas, máscaras, avental e óculos de proteção. Pessoas com suspeita ou confirmação de mpox devem se isolar imediatamente e evitar compartilhar objetos de uso pessoal, como toalhas, roupas, lençóis, escovas de dente e talheres, até o fim do período de transmissão.
Higienize regularmente as mãos com água e sabão ou use álcool em gel, especialmente após o contato com a pessoa infectada, suas roupas, lençóis, toalhas e outros itens ou superfícies que possam ter entrado em contato com as lesões ou secreções respiratórias. Roupas de cama, vestimentas, toalhas, lençóis, talheres e objetos pessoais da pessoa doente devem ser lavados com água morna e detergente. Superfícies contaminadas devem ser devidamente limpas e desinfetadas, e resíduos contaminados, como curativos, devem ser descartados de forma apropriada.
Todas as pessoas que apresentarem sintomas compatíveis com a mpox devem buscar imediatamente uma unidade básica de saúde e adotar as medidas de prevenção necessárias.
A vacina
Em 2022, o Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos doou à UFMG o material conhecido como “semente do vírus”, que serve como base para o desenvolvimento do Insumo Farmacêutico Ativo (IFA), essencial para a produção da vacina contra a mpox. Atualmente, a pesquisa está na fase de ampliação da produção, buscando formas de obter matéria-prima suficiente para atender à demanda em larga escala.
Segundo Flávio Fonseca, a vacina é composta por um vírus similar ao da mpox, mas atenuado. “Esse vírus vivo foi atenuado por passagens em um hospedeiro diferente, até perder completamente a capacidade de se multiplicar em mamíferos”, explica.
Atualmente, existem duas vacinas disponíveis contra a mpox. A primeira é a Jynneos, produzida pela farmacêutica dinamarquesa Bavarian Nordic, composta por vírus atenuado. Ela é recomendada para adultos, incluindo gestantes, lactantes e pessoas vivendo com HIV. Os efeitos colaterais da Jynneos são considerados leves, como dor no local da aplicação, vermelhidão e inchaço, além de possíveis dores musculares, cefaleia e fadiga.
A segunda vacina é a ACAM 2000, fabricada pela empresa americana Emergent BioSolutions. Por ser composta por vírus ativo, ela apresenta mais contraindicações e efeitos colaterais, tornando-se uma opção menos segura.
Com a recente declaração de emergência, o Ministério da Saúde informou que está em negociação com a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) para a compra de 25 mil doses da Jynneos. Desde 2023, quando a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou o uso emergencial da vacina, o Brasil já recebeu cerca de 47 mil doses, das quais 29 mil já foram aplicadas.
OMS
O anúncio da OMS seguiu a recomendação do Comitê de Emergência do Regulamento Sanitário Internacional (RSI), composto por especialistas independentes. De acordo com o grupo, o aumento de casos de mpox tem potencial para se expandir para outros países da África e, possivelmente, para fora do continente.
Esta é a segunda declaração de Emergência de Saúde Pública de Interesse Internacional (ESPII) relacionada à mpox em dois anos. Em julho de 2022, o surto global da doença foi classificado como emergência devido à rápida disseminação do vírus, principalmente através do contato sexual em países onde a doença não havia sido previamente registrada. O estado de emergência foi encerrado em maio de 2023, após uma queda sustentada nos casos em todo o mundo.
A Rede Vírus foi estabelecida em fevereiro de 2020, como uma resposta à emergência do novo coronavírus. A rede une unidades de pesquisa, Institutos de Ciência e Tecnologia (ICTs) e laboratórios de instituições renomadas, incluindo Fiocruz, Butantan, Universidade de São Paulo (USP), Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), UFMG, Universidade Federal do Ceará (UFC), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM) e Laboratório Nacional de Biociências (LNBio).
Quem pode contrair Mpox?
Qualquer pessoa que tenha contato físico próximo com alguém que exiba sintomas de mpox ou com um animal infectado está em risco de contrair a doença. É possível que indivíduos vacinados contra a varíola humana possuam alguma proteção contra a mpox. No entanto, a vacinação contra a varíola foi amplamente descontinuada em todo o mundo após a erradicação da doença em 1980, o que significa que muitos jovens não foram vacinados. Mesmo aqueles que receberam a vacina contra a varíola devem continuar a adotar medidas de proteção.
Recém-nascidos, crianças e pessoas com imunossupressão pré-existente estão mais propensos a apresentar formas graves da doença e a enfrentar riscos mais elevados, incluindo a morte. Profissionais de saúde também estão em maior risco devido à sua maior exposição ao vírus.
Além disso, qualquer pessoa que tenha contato próximo com alguém que apresente sintomas de mpox está em risco. Aqueles com múltiplos parceiros sexuais também devem estar atentos ao risco de infecção.
Mpox pode matar?
Na maioria dos casos, os sintomas da mpox desaparecem espontaneamente em poucas semanas. No entanto, em algumas pessoas, o vírus pode causar complicações médicas graves e até levar à morte. Recém-nascidos, crianças e indivíduos com imunossupressão pré-existente têm um risco maior de desenvolver formas mais severas da doença e enfrentar desfechos fatais.
As formas graves de mpox podem envolver lesões mais extensas e severas, particularmente na boca, olhos e órgãos genitais, além de infecções bacterianas secundárias na pele, infecções sanguíneas e pulmonares. Outras complicações podem incluir infecção bacteriana grave decorrente das lesões cutâneas, encefalite, miocardite, pneumonia e problemas oculares.
Pacientes com formas graves de mpox podem necessitar de internação hospitalar, cuidados intensivos e tratamento com antivirais para reduzir a gravidade das lesões e acelerar a recuperação. Dados disponíveis indicam que a taxa de mortalidade varia entre 0,1% e 10% entre os infectados, com variações influenciadas por fatores como acesso a cuidados de saúde e a presença de condições de imunossupressão.
Como reduzir o risco de contrair Mpox?
Você pode reduzir o risco de infecção pela mpox seguindo estas precauções ao entrar em contato com pessoas com suspeita ou confirmação da doença:
- Quando estiver próximo de alguém infectado, a pessoa doente deve usar uma máscara (comum ou cirúrgica), especialmente se tiver lesões na boca ou estiver tossindo. Você também deve usar máscara.
- Evite o contato direto com a pele sempre que possível e use luvas descartáveis se precisar tocar nas lesões.
- Use máscara ao manusear roupas ou lençóis do doente, caso a pessoa infectada não possa fazê-lo sozinha.
- Lave suas mãos regularmente com água e sabão ou utilize álcool em gel, principalmente após o contato com a pessoa infectada.
- Lave roupas, lençóis, toalhas, talheres e pratos usados pelos infectados com água morna e detergente.
- Limpe e desinfete todas as superfícies que possam estar contaminadas e descarte adequadamente os resíduos contaminados, como curativos.
- Em regiões onde há animais portadores do vírus mpox, evite o contato direto com animais selvagens, especialmente se estiverem doentes ou mortos, incluindo o contato com carne e sangue de animais.
- Certifique-se de que alimentos que contenham partes de animais sejam bem cozidos antes de consumi-los.
Pós-exposição:
Pessoas que tiveram contato direto com fluidos e secreções corporais de pessoas suspeitas, prováveis ou confirmadas para mpox, cuja exposição seja classificada como de alto ou médio risco, conforme recomendações da OMS, mediante avaliação da vigilância local.
Por que não devemos usar os termos Monkeypox ou Varíola dos Macacos?
O termo Monkeypox ou “varíola dos macacos” tem sido gradualmente substituído por mpox para evitar o estigma associado à doença. Esses nomes podem induzir ao erro, sugerindo que a doença é exclusiva dos macacos ou que a transmissão se dá apenas por contato com esses animais, o que não é verdade.
A mudança de nomenclatura para mpox é uma tentativa de desestigmatizar a doença e promover uma compreensão mais precisa de sua natureza e formas de transmissão, ajudando a combater o preconceito e a desinformação.
Se você achar que tem sintomas compatíveis de mpox, procure uma unidade de saúde para avaliação e informe se você teve contato próximo com alguém com suspeita ou confirmação da doença. Se possível, isole-se e evite contato próximo com outras pessoas. Higienize as mãos regularmente e siga as orientações para proteger outras pessoas da infecção.