O Afiliado e o Produtor

1º. CASO: O homem se alimentando na praça

Um homem chegou na praça, estendeu uma mesinha portátil, cheia de tecnologia de ponta, tirou da sua bolsa algumas vasilhas térmicas com deliciosos alimentos prontos, inclusive carne assada, colocou sobre a mesa e começou a comer.

Logo apareceram várias pessoas famintas e ficaram em volta dele, pedindo para comer também. Mas o homem falou:

— Essa é a minha comida, aqui só eu como (esse é o meu produto, eu faço as regras).

Em dado momento um senhor pobre falou:

— Eu tenho algumas moedas aqui, o senhor não pode me vender um pedaço desse frango assado?

— Não — respondeu o homem, com seu semblante de rei do mundo. Aqui só eu como, vocês, se quiserem vão caçar (vão trabalhar no orgânico).

— Mas, senhor, até a gente conseguir caçar vamos morrer de fome.

— Você não disse que tem algumas moedas? Compre pão na padaria (compre um plugin de SEO).

— Eu estou com muita fome agora, acho que nem consigo chegar na padaria (não consigo esperar para vender só daqui a alguns meses).

— Então comece a caçar imediatamente (comece a fazer seu site imediatamente). Olha ali, passou uma galinha correndo, ela está indo naquela direção, veja que eu te dei até a direção que ela foi (dei dicas de SEO no meu material promocional).

— Tá bom — disse o homem, pensativo. Mas, mesmo que eu cace a galinha, não tenho fósforo para acender o fogo, nem faca, nem panela, nem pratos, nem sal, nem tempero, como vou comer a galinha dessa forma?

— Isso é fácil, basta você fazer um curso de culinária (fazer um curso de marketing digital). Você vai aprender a preparar sua galinha (vai aprender a vender no orgânico).

— Mas mesmo que eu aprenda, não vou ter os ingredientes necessários para preparar a galinha…

— Faça também um curso para aprender a plantar e fazer seus próprios temperos, quais sejam: cebola, alho, manjericão, etc. (faça também um curso de e-mail marketing, vendas pelo Instagram, vendas pelo Facebook, etc.).

— Obrigado por tanta dica útil, o senhor é um homem muito honrado e merece todo o meu respeito. Vou começar agora mesmo.

— Isso mesmo, vá. Se você conseguir pegar muitas galinhas eu te dou um prêmio: a cada duas mil galinhas que você caçar eu te dou uma garrafa de refrigerante (eu aumento em dez reais sua comissão).

— Nossa!!! Que maravilha!!! O senhor é bom demais!

— Agora pare de me bajular e vá caçar logo, antes que eu te expulse daqui (faça vendas logo antes que eu cancele sua afiliação).

— Está bem, desculpe. Só mais uma coisa, digno senhor…

— Fale logo…

— Será que com essas moedas que eu tenho aqui eu não posso comer só um pouquinho do seu feijão (eu não posso fazer só um anúncio do seu produto)?

— É óbvio que não. Minha comida, minhas regras. Ou você obedece ou vai embora…

— Tudo bem, sábio senhor, peço desculpas por ter incomodado (peço desculpas por ter enviado um e-mail perguntando se posso fazer anúncios).

— Eu até desculpo você, desde que cace pelo menos 50 galinhas por mês (desde que faça pelo menos 50 vendas do meu produto por mês).

— Tudo bem, caríssimo senhor (tudo bem, querido deus-produtor).

2º. CASO: O dentista sem anestesia

— Senhor dentista, estou com muita dor de dente, preciso extrair esse dente senão vou enlouquecer de dor.

— Tudo bem, vou extrair o dente para você, mas já vou avisando que é sem anestesia.

— Como assim? Sem anestesia vai doer demais…

— É que a anestesia que eu tenho é só para mim e para a minha família. Alguns amigos próximos também podem usar, mas o senhor não é meu amigo.

— Mas eu posso pagar pela anestesia (posso pagar pelo anúncio), tenho 10 reais.

— O meu conselho é que com esses dez reais o senhor compre uma bebida forte e volte aqui (faça um curso de SEO). O senhor já viu em filmes que quando vão extrair balas dos feridos e não tem anestesia basta eles ingerirem uma bebida forte que conseguem suportar a dor?

— Mas o bar mais próximo daqui fica a mais de 20 quilômetros. Vou ter que ir lá a pé para buscar a bebida, porque com o dinheiro que eu tenho ou eu compro a bebida ou pago a condução.

— Vá a pé (faça no orgânico), vai demorar um pouco, mas se você for rapidamente (aprender rápido vendo vídeos no YouTube) você vai conseguir voltar ainda hoje (vai conseguir fazer uma venda ainda esse mês).

— O senhor não aceita esses dez reais em troca de uma gotinha de anestesia (não posso fazer um anúncio de dez reais por dia)?

— Não, meu consultório, minhas regras (meu produto, minhas regras). E sinta-se feliz por eu aceitar arrancar seu dente (sinta-se feliz por eu ter aceitado sua afiliação).

— Obrigado, o senhor é um homem muito bom e honrado. Estou indo a pé para buscar a bebida. Muito obrigado mesmo, sabia que eu admiro muito o senhor?

— Não estou interessado em admiração, estou interessado que vá logo (que faça vendas logo).

— Obrigado, já estou indo, vou tentar voltar logo.

— Volte logo mesmo, se você não voltar em uma hora não vou mais atender você (se não fizer vendas em um mês vou cancelar sua afiliação).

— Obrigado por tanta compreensão e bondade, caro senhor (querido deus-produtor)!

Esses dois casos procuram ilustrar em forma de parábola a atitude egoísta de alguns produtores que não deixam seus afiliados fazerem anúncios de seus produtos. Isso mostra em que nível pode chegar um ser humano, e o pior, ser aceito pela socidade como quem está fazendo algo correto. O egoísmo está de tal forma infiltrado na alma humana que até as próprias vítimas de tal descalabro costumam achar que está tudo certo.

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